Ouço gargalhadas de crianças lá fora, atraídas com a atmosfera de hoje. Um sol radiante se rasga de ponta a ponta. Uma brisa suave passageira se enrola no ar. Mais parece um mundo perfeito nesta tarde de Verão, onde o calor não sua nem arrepia.
Porque raios choro eu então? Estou cego, não vejo o sol brilhar. A chuva persiste cair em cascata de meus olhos, pondo-me num estado esgotado. Não tem explicação! Porque me sinto seco quando meu edredom está encharcado? Sinto que rastejar é o meu caminhar. Só quero dormir... Mas nunca o sono tem sonhos. Desgastam-se na miséria do pensamento do meu coração. Pobre escravo da saudade não tem vintém... Mendigo aqui e ali, na esperança de encontrar o suficiente para por-me alerta.
Acordo com um estrondo, e um raio entra em meu quarto... Assustei-me... Mas ainda estou vivo... Sinto o pulsar do meu coração como sardinha a saltitar quando apanhada do mar... Olho-me no espelho... Esforço um sorriso... - Anda lá rapaz, ri-te, chega de tanto lamentar... - Quem te disse que eu lamento?...
O dia passou ao de leve por mim... Comi... E sorri... Até vi o sol debaixo de chuva... Estarei com febre? A tarde caí num fechar de olhos em meu colo solitário... Cadê você? De repente, sinto algo puxar-me... - Anda entra não te faças de desentendido...
- ???
Um choque quase que elétrico percorre meu corpo, - Aí! Que se passa com meu coração? sinto-o desfazer-se... Dói-me... Sufoca-me. - Porque me fazes isto? Tive um dia mais ou menos bom... - Não! Entra e cala-te... Entro em estado de coma... Mais uma vez sou roubado, como que se fosse eu podre de abundância... Este ladrão deve pensar que vivo em um castelo feito de felicidade, para assim violar a fragilidade de meus sentimentos, ou que sou feito de sorrisos estrelados. Só pode!
Sinto-me morrer... Ou quero morrer? Arrasta-me com tamanha força até aquele sítio onde bolinhas azuis se encontram... Tenho-nas em minhas mãos... São engraçadas Vou tragá-las de uma só vez... - Assim não as rouba de mim, não agora!
Sinto a dor, prender meu estomago vazio sem sustento... Ouço gargalhadas e murmúrios... Uma lágrima cai e fica paralisada para sempre... Estado de confusão e lamentação... Sofrimento sem causa. Sem causa?
- Já não quero ir... Entregar-me a ti... Não quero morrer em teus braços amarrados.
- Quero voltar a mim e ser eu! Onde andam aquelas calças que me enchem de lanças?
 - Sou guerreiro! Ouviste?
Tudo está escuro... Entrei na floresta encantada da escravidão... - Onde estão as falsas estrelas, que faziam parte dela?
...Oh! Minha alma é a que tem de procurar a luz. - Oh! Sim... a luz...
Onde anda esse foco perdido, que nunca mais me focou? -Não! Não quero ser poço de atenções, nem tão pouco de lamentações.
Quero minha paz... Meu coração embalar-me com sua melodia suave... já nem suplico pela felicidade... Não sou ganancioso... Só quero um pouco de luz... E paz. Para poder continuar a minha jornada. Qual, deve ser a da busca pela felicidade. Qual?
- Deixe-me em paz, sim... Chega de tanto estilhaçar...
Vou me conciliando aos poucos... Mas sem antes cair ao chão uma e outra vez... Minha luz é débil... O inimigo sempre com um olho sobre mim... O importante é que encontrei as minhas calças... Antes que fosse mais tarde do que já é! Demorei a ver a luz do sol se pôr, possivelmente por estar de olhos fechados! Faz parte.
Defendo-me com o mais precioso que tenho... O toque do meu coração... Sinal que ainda estou vivo... E assim posso continuar...